Se a humanidade estiver impedida de ter um conhecimento por contacto de um certo objecto (por exemplo, um planeta distante), podemos concluir que também estar impedida de ter conhecimentos proposicionais acerca desse objecto?
Por estranho que pareça, há situações em que o conhecimento inferencial precede o conhecimento por contacto: Clyde W. Tombaugh descobriu Plutão, em 1930, porque os astrónomos tinham feito cálculos que previam a existência de um corpo celeste de grandes dimensões a seguir a Neptuno. Apesar de se ter constatado que esses cálculos estavam errados, Tombough, com o telescópio do observatório Lowell no Arizona, resolveu escrutinar a área do sistema
solar onde era previsível que estivesse a órbita desse corpo desconhecido e acabou por encontrar Plutão.
Em 1964 o físico nuclear Peter Higgs, prémio Nóbel da física em 2013, com base nas hipóteses levantadas por Philip Anderson, predisse a existência de uma partícula subatómica a que deu o nome de bosão. Esta partícula só foi observada a partir de 2012 por intermédio do maior instrumento de observação científica criado até hoje: o acelerador de partículas do CERN.
Se nos mantivermos fiéis à teoria tradicional acerca do conhecimento, no caso da descoberta de Plutão por Tombaugh, não se pode falar de conhecimento antes da descoberta propriamente dita, porque não só os cálculos estavam errados, o que significa que a crença na existência de um corpo de grandes dimensões a seguir a Neptuno não estava bem justificada, como o que havia antes da descoberta era uma suspeita muito vaga.
No caso de Higgs a hipótese sobre a existência do bosão estava bem fundamentada do ponto de vista matemático e revelou-se verdadeira. Nesse caso podemos afirmar que a crença de Higgs na existência do bosão está muito próxima da satisfação das condições previstas pela teoria tradicional, do conhecimento como crença verdadeira justificada. Mesmo que possamos
pôr em causa o seu estatuto de conhecimento não podemos negar que foi com base nessa crença que o bosão acabou por ser encontrado.
Outro exemplo de antecipação do conhecimento por contacto pelo raciocínio conjectural é a tabela periódica de Mendeleiev:
"Em 1871, Mendeleev previu, a partir de espaços vazios em sua tabela periódica, que devia haver ainda pelo menos 3 elementos não descobertos, aos quais ele nomeou eka-boron, eka-aluminium, e eka-silicon. Com a previsão de Mendeleev da existência desses espaços e suas propriedades químicas aproximadas, os elementos correspondentes foram encontrados por químicos franceses, escandinávios e alemães, e foram nomeados por seus países de descoberta, como Gálio, Escândio e Germânio."(http://pt.wikipedia.org/wiki/Descoberta_dos_elementos_qu%C3%ADmicos)
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